O espetáculo 'Boca a Boca: um solo para Gregório' em Salvador com entrada gratuíta

O espetáculo terá estréia em Lisboa, mas os baianos poderão conferir o ensaio aberto em primeira mão


Eu sou aquele que os passados anos
Cantei na minha lira maldizente
Torpezas do Brasil, vícios e enganos.
Qual homem pode haver tão paciente,
Que, vendo o triste estado do país
Não chore, não suspire e não lamente?
 






É com essa narrativa surpreendentemente contemporânea que começa o espetáculo “Boca a Boca: um solo para Gregório”, com estreia agendada para o dia 10 de dezembro, às 18h, no Instituto Camões, em Lisboa. Ainda na capital portuguesa, a peça segue em cartaz no Teatro da Comuna, de 11 a 13 de dezembro, de onde retorna ao Brasil para preparar a sua turnê nacional. Mas os soteropolitanos, conterrâneos de Gregório, não precisarão esperar tanto, pois terão a chance de assistir em primeira mão ao espetáculo no próximo dia 26 de novembro, às 19h, no recém inaugurado Teatro Gregório de Matos, na Praça Castro Alves. A apresentação será um ensaio aberto e tem entrada gratuita.
O músico Leonardo,  João Sanches  e o ator Ricardo Bitencourt
Com roteiro e direção de João Sanches, a obra busca reconhecer a importância do poeta baiano, que é considerado, por muitos teóricos, o primeiro escritor brasileiro efetivamente nascido no Brasil, em 1636. Depois de ficar conhecido como “Boca do Inferno” e “Boca de Brasa”, pelas críticas ferozes e debochadas que fazia em suas poesias à sociedade do século XVII, Gregório foi preso e enviado para exílio em Angola. Conseguiu ser perdoado e voltar ao Brasil, mas com a condição de que morasse em Recife e nunca mais voltasse à Bahia, permanecendo até hoje banido de sua terra.“Queremos trazer Gregório de volta para a Bahia e mostrar o quanto ele é atual”, comenta Sanches. E ressalta: “queremos dar um solo para Gregório”.
Em cena, o ator Ricardo Bitencourt e o músico Leonardo Bittencourt promovem um verdadeiro recital em formato de show de rock’n roll. Entre declamações e narrações sobre a vida e obra de Gregório, a trilha sonora terá canções que vão do The Doors a Caetano Veloso, passando por NirvanaRamones, Novos Baianos e Gilberto Gil. “Gregório é rock’n roll puro, pois ele tem essa atitude roqueira da contestação. Isso sem contar que ele é POP – por isso, o repertório se vale de estrelas da MPB e do Rock internacional”, explica Sanches. Para Ricardo Bitencourt, o espetáculo é rápido, dinâmico e apresenta o texto de Gregório como grande protagonista. “Eu sou um agente do discurso do poeta e um porta voz da poesia dele”, explica, ressalvando que “são os eus líricosde Gregório que aparecem durante as declamações”.

O roteiro apresenta um conjunto de quarenta poemas ou trechos de poemas de Gregório de Matos, que são divididos não de forma cronológica, mas, sim, por temas, como a sátira de costumes, o sexo, a religião e a crítica ao Governo. Intercalando os blocos de temas, há pequenos comentários narrativos que contextualizam e associam aquela produção literária a momentos da vida do poeta. Com agilidade e no ritmo do repertório musical, Ricardo Bitencourt se divide entre o narrador e as múltiplas facetas do declamador.

Já o título do espetáculo faz referência não só aos apelidos que o poeta ganhou, mas também à forma como a sua poesia foi perpetuada: no boca a boca, no cópia a cópia, uma vez que a imprensa e a editoração gráfica eram proibidas no Brasil Colônia. A publicação das obras completas de Gregório de Matos só ocorreu no século XX, ou seja, quase trezentos anos depois de manuscritas. Quanto à expressão “um solo para Gregório”, ela remete ao formato solo do espetáculo, que tem um único ator em ação, ao solo da guitarra de Leonardo Bittencourt, e ao pleito maior de devolver para Gregório o seu solo natal, já que ele foi proibido de pisar em terras baianas e os seus restos mortais encontram-se até hoje em Recife.

A realização do espetáculo é uma parceria entre o Theatro XVIII e a Sole Produções, enquanto o apoio é dado pela Funarte - Ministério da Cultura e pela Fundação Gregório de Matos junto com a Prefeitura Municipal de Salvador.

Desdobramentos do projeto

A ideia é que a encenação do espetáculo “Boca a Boca: um solo para Gregório” seja a primeira etapa de um projeto mais extenso. Ao longo da futura turnê brasileira da peça teatral, serão realizados também seminários, debates com estudantes de escolas públicas, um concurso literário, apresentações internacionais em países de Língua Portuguesa e uma campanha política com o objetivo de trazer de volta à Bahia os restos mortais de Gregório, ainda que seja através da inauguração de um túmulo simbólico. “O que mais importa é que o discurso de Gregório chegue às pessoas e que a memória dele seja perpetuada com as honras que merece”, afirma o ator Ricardo Bitencourt. “O Brasil precisa saber quem foi Gregório de Matos, o primeiro escritor do nosso país”, complementa o diretor João Sanches.

Estreia em Portugal

“Boca a Boca: um solo para Gregório” será o primeiro espetáculo sobre Gregório de Matos a ser apresentado em Portugal. Para a equipe de produção da peça, existe também uma missão de mostrar aos portugueses quem foi o poeta brasileiro. Afinal, ainda muito jovem Gregório vai para Coimbra, onde faz Faculdade de Direito, e onde passa trinta anos antes de regressar ao Brasil e iniciar sua carreira literária. “Portugal foi quem deu régua e compasso a Gregório. Precisamos apresentá-lo tardiamente aos portugueses”, explica Ricardo Bitencourt. Os espaços escolhidos foram o Instituto Camões, que promove a língua portuguesa segundo princípios de interculturalidade, e o Teatro da Comuna, um dos mais tradicionais de Lisboa, fundado em 1972.


Serviço:

Boca a Boca: um solo para Gregório

  • Ensaio aberto em Salvador:
Data: 26 de novembro
Hora: 19h
Local: Teatro Gregório de Matos, Praça Castro Alves
Entrada: gratuita

  • Estreia em Lisboa:
Data: 10 de dezembro
Hora: 18h
Local: Instituto Camões
Entrada: gratuito

  • Apresentações em Lisboa:
Datas: 11, 12 e 13 de dezembro
Hora: 21h30 (dias 11 e 12) e 16h (dia 13)
Local: Teatro da Comuna
Entrada: a definir


Ficha técnica:

Poesias: Gregório de Matos
Intérprete: Ricardo Bitencourt
Roteiro e direção: João Sanches
Trilha ao vivo: Leonardo Bittencourt
Direção de movimento: Matias Santiago
Assistente de direção: Marina Martinelli
Figurino: Robério Sampaio
Confecção de figurino: Robério Sampaio, Alessandra Santiago e Só a Rigor
Adereços e maquiagem: Alessandra Santiago
Projeto de luz e cenário: João Sanches
Coordenação de produção: Simone Carrera
Produção em Lisboa: Daniela Rosado
Design Gráfico: Lado B Propaganda
Assessoria de imprensa: Gabriel Monteiro
Fotografia: Sora Maia
Realização: Sole Produções e Theatro XVIII

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